domingo, 22 de agosto de 2010

Cabrestos e amarras do mundo moderno

O medo é para o homem como dor ou atração sexual - estratégia de sobrevivência. É fato, os muito destemidos morrem cedo. Não questionemos quão bem estes aproveitaram a própria vida, para a natureza não importa como viveu-se, e sim se viveu-se o suficiente para procriar e perpetuar a espécie.
O medo, além de estratégico, é coercitivo. As sociedades se arrebanham e seguem acuadas para os seus currais, pastoreados por um medo peculiar do inconsciente coletivo, muitas vezes imaginário. A situação é milenar e presente em toda a história da humanidade, mas essa sociedade contemporânea necessita especialmente desses mecanismos de coerção. Particularmente megalomaníaca, presa a um sistema econômico e social no qual a luta de classes é sabotada por uma idéia construída de que o sucesso financeiro depende unicamento de trabalho. É preciso manter uma grande massa de minorias atrelada a medos e temores para mantê-la anestesiada ante à miséria camuflada.
Publicidade e propaganda é o grande lance desde o século XX. Na última década atingiu seu auge, auxiliada pela tecnologia de envio instantâneo de informações. É possível disseminar idéias, rótulos, preconceitos e ideais em alguns segundos. Por muitas vezes a tecnologia de informação foi especialmente útil ao homem, mas é principalmente utilizada para a disseminação de verdades que surgem da construção de discursos.
Somos frequentemene induzidos a temer grandes pandemias e bombardeados com mirabolantes teorias da conspiração, enquanto escondem da sociedade castrada realidades mais cruéis e cotidianas. É preciso encontrar um meio termo entre o pânico absoluto e a total incredulidade.
De uma forma ou de outra, desde que inventada a sociedade moderna, a civilização possui esse caráter coercitivo. O indivíduo é ensinado a temer pais, professores, maridos. Agora são os grandes quem detém o poder nas mãos: a mídia. Espera-se temeroso pelo momento em que o homem se libertará de mais esse cabresto. Como se libertou um dia do temor aos maridos, a Deus, à morte.
En la lucha de classes
todas las armas son buenas
piedras
noches
poemas


Paulo Leminski

Um blog sobre contradições, absurdos sociais, divagações e esquerdismos.
Todas las armas son buenas.